segunda-feira, 28 de maio de 2012

Safra perdida nos campos de São Paulo do Potengi

O cenário que se vê na lavoura de José Xavier de Lima, 65 anos, é frustrante. Alguns pés de feijão ainda tiveram forças para crescer um pouco, mas não foi o suficiente. A vagem de 20 centímetros normalmente vista quando a plantação está madura, não chegava a seis centímetros na propriedade da comunidade Lagoa Comprida, no município de São Paulo do Potengi. "Produção agrícola não tem mais", informa o extensionista rural da Emater/RN, Erivan Isídio Ferreira, que debaixo de uma rara chuva fala das perdas dos agricultores na zona rural das cidades.

A frustração nos campos de São Paulo do Potengi foi total. Foram 310 toneladas de feijão, 110 de milho e 800 de mandioca perdidas, totalizando um prejuízo de R$ 966 mil. É um retrato fiel do que aconteceu no estado. As chuvas de janeiro a março não foram suficientes para permitir o plantio. O segundo levantamento de safra 2012 da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) identificou que foram plantados 31.612 hectares, número 79,9% inferior ao registrado em 2011. A produção foi avaliada em 8.882 toneladas, uma perda de 91,8% na comparação com a safra anterior.

Nas feiras do Rio Grande do Norte afora se tem a clara noção da situação de cada município. No Seridó, o preço das mercadorias encontra explicações no quadro grave das lavouras. Os R$ 8 cobrados pelo comerciante Francisco Pereira da Silva, 64 anos, pelo quilo de feijão preto representam o dobro do custo do mesmo produto alguns meses atrás. Na venda mais salgada estão embutidos o aumento de R$ 200 para R$ 400 do saco de 60 quilos, que agora é comprado no município de Rio Verde, em Goiás. O frete e o imposto para trazer a mercadoria ao RN somam mais R$ 100.

Francisco Pereira da Silva viveu sua primeira seca em 1958, e diz nunca ter visto uma estiagem tão preocupante quanto essa. O feirante conta que recebe todos os dias consumidores vindos da zona rural da cidade. Com as lavouras perdidas, a alimentação agora precisa ser comprada na feira. O relato do agricultor Luiz Ferreira dos Santos, 48 anos, do município de SãoPaulo do Potengi confirma isso.

Luiz Ferreira vive com filhos, mulher e sogra no assentamento Cachoeirinha, onde estão outros mil agricultores familiares. O sustento é todo tirado da aposentadoria da sogra, que recebe um salário mínimo por mês. Antes o agricultor se alimentava da própria produção, porém a seca o obriga a buscar os produtos encarecidos da feira. No mesmo assentamento, Geraldo Tutu Neto, 55 anos, constrói cisternas pelo interior, ocupação que garante a comida no prato durante a estiagem. "Consome praticamente tudo o que ganho", afirma.

O pouco feijão que os comerciantes conseguem colher no RN chega verde, e é conseguido na beira do rio, ou em propriedades com tecnologia para puxar água para as lavouras. O feirante Geraldo Batista, 66 anos, explica que tem recebido cerca de 500 quilos durante a estiagem. Na época boa, a quantidade varia de 2.000 a 4.000 quilos.

Fonte: DN Online

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