sábado, 16 de julho de 2011

Potengiense “previu” morte em queda de avião da NoAr

MATÉRIA COMPLETA- “No dia que eu entrar num avião, ele cai”. Era isso que dizia o caminhoneiro potengiense Jonhson do Nascimento Pontes, 30, antes do acidente aéreo da última quarta-feira, no qual morreram 16 pessoas – ele estava entre os 14 passageiros e dois tripulantes durante a queda do bimotor LET-410 da companhia aérea NoAr, na região metropolitana de Recife. Aquele era apenas o segundo voo de sua vida; o primeiro, foi quando embarcou de Natal para Recife no domingo passado. O objetivo da viagem era tirar o visto para trabalhar em Angola, como motorista de carreta na sucursal da Queiroz Galvão, função para a qual tinha sido indicado por um amigo.
A viagem para a África seria no próximo dia 19 de julho. Mas a profecia que Jonhson verbalizou a vida inteira, fruto do enorme medo que sentia de voar, acabou se concretizando no início da manhã de quarta-feira com a queda da aeronave que matou todos os ocupantes. O irmão dele, Jocil Gomes Pontes Filho, 25, lembra que o caminhoneiro sempre disse que no dia que pisasse em um avião, ele cairia. “Ele morria de medo”, enfatiza.

Jocil informa que a família está desolada. A mãe de Jonhson está sob efeito de calmantes e dorme o tempo todo. Além de Jocil, há mais dois irmãos, um homem e uma mulher. Ambos ainda não acreditam no que aconteceu. O pai está em Recife para fazer o reconhecimento do corpo junto com um tio e uma tia da vítima. Porém, ainda não há previsão de quando o corpo chegará a São Paulo do Potengi. “Estamos desesperados. Nunca pensamos que fosse acontecer uma coisa dessas. Ele rodou a vida todinha trabalhando numa carreta e nunca aconteceu nada”, diz com um tom de quem ainda não quer acreditar na fatalidade.

Jonhson do Nascimento Pontes trabalhava para uma empresa de Fortaleza transportando milho. Segundo Jocil, a carga saía de Fortaleza, passava por Alagoas e por último vinha para o Rio Grande do Norte. Antes disso o caminhoneiro trabalhou muito tempo para a distribuidora CDA e passou outro tanto sendo motorista de uma produtora mossoroense de óleo de castanha de caju. Durante o período em que trabalhou guiando carretas, sofreu apenas um transtorno, em Alagoas, quando foi assaltado e apanhou dos ladrões. Com a sua morte, ele deixou a mulher e dois filhos, de oito e três anos, em São Paulo do Potengi.

Conforme conta Jocil, o irmão viajou para Recife ao meio-dia do domingo passado pela NoAr com tudo pago pela Queiroz Galvão. A volta estava marcada para terça-feira às 14h pela mesma companhia, mas o voo foi cancelado porque a aeronave estava em manutenção. Jonhson foi então transferido para a viagem das 6h40min da quarta-feira. De acordo com Jocil, o irmão teria passado a noite em um hotel oferecido pela operadora. “Ele foi tirar o visto e ia voltar para São Paulo do Potengi para esperar o dia de ir para Angola”, acrescenta.

O ajudante de caminhoneiro ficou sabendo da notícia do acidente por terceiros, mas conta que a esposa de Jonhson recebeu a ligação de uma funcionária da NoAr solicitando os dados do passageiro e informando sobre a queda. “Mas a gente não tinha confirmação da morte. Até às 16h (de quarta) não queríamos acreditar no que tinha acontecido porque disseram que os documentos de todo mundo foram queimados, menos o do meu irmão”, conta.

Jonhson havia aceitado se mudar para Angola por causa da oportunidade de ganhar um salário melhor. O amigo que o indicou havia dito que pagavam bem e ele teria a oportunidade de trabalhar quatro meses e passar 15 dias em casa no Brasil. “Estamos todos sem acreditar. É muito difícil”, disse com a voz embargada ao telefone. Apesar de a NoAr ter oferecido passagens, hospedagem e alimentação para todos os familiares do caminhoneiro, apenas o pai e dois tios foram para Recife.

De acordo com Jocil, o Itep pernambucano iria emitir um novo laudo às 16h de ontem a respeito da identificação dos corpos, mas não se sabe quando o de Jonhson chegará ao Estado. “Eles avisaram que pode demorar de dois dias até dez”, disse o irmão. Como parte dos integrantes do voo teve os corpos carbonizados, a identificação precisa ser feita pelo DNA dos parentes e é um pouco mais demorada. O enterro será realizado em São Paulo do Potengi e a companhia aérea irá arcar com todas as despesas.

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